Pedro, meu prezado amigo: Tenho lido muitos dos seus escritos e, em quase todos você deixa transparecer o seu grande amor pelo Crato. Neles você fala das riquezas e belezas do município, mas clama a todos, segui-lo no seu intento de resolver os inúmeros problemas que ele tem e deixa à mostra o seu desapontamento por nada poder fazer sozinho. Há uma razão muito forte para esse amor tão grande; é que o Crato inspira e merece amor por parte dos seus filhos autênticos e você é um deles. Aliás, o Crato, atualmente está precisando muito do amor e da atitude dos seus filhos de verdade.
Eu, que não nasci aqui, mas como se filho fosse do Crato, quero bem ao município, à cidade, ao povo e, exatamente como um dos seus filhos mais fervorosos, vejo o quanto ele está lento em sua caminhada e o quanto realmente está precisando de todos os seus filhos.
Como você, eu não gosto quando vejo o descaso pela cidade, pelo município, e quando vejo a cidade, como que esquecida, quando a vejo perder tanto do seu patrimônio, perder oportunidade, perder posições na corrida para o desenvolvimento em todas as áreas, entre as cidades da região, perdendo assim até força econômica, não gosto quando vejo a cidade, a cada dia perder força política, quando vejo a cidade deixar de ser socorrida de imediato, quando se abatem sobre ela, catástrofes como a de há pouco, quando vejo o povo ser enganando por promessas, demagogias ou migalhas, com pequenas obras que são construídas apenas próximas às eleições, justamente para enganá-lo, e não gosto quando vejo a cidade, o município e o povo, perderem a sua autonomia.
Fico triste quando penso em certos assuntos que a meu ver, são da maior importância, são o ponto chave para quase tudo de bom que nos poderia acontecer, mas que, infelizmente, nunca são tratados. São de fatos alguns, os tais assuntos, mas eu gostaria de referir ao principal, aquele que, só muito bem pensado, se a sociedade o encarasse com muita seriedade, iria, certamente, resolver muitos problemas que nos atinge e atrofiam, além de nos beneficiar com o que precisamos e merecemos. Falo do assunto que diz respeito à política.
Acompanho, guardando uma certa distancia, naturalmente, o que sempre acontece quando se aproximam as eleições. Percebo, logo de inicio, que tal assunto dado a sua importância, não deveria ser tratado apenas quando se aproximem as campanhas eleitorais, vejo que as pessoas mais ligadas ao assunto ficam aguardando providências de pessoas alheias ao município, como se não tivessem autonomia para tratá-lo, vejo as lideranças esfaceladas, engafinhando-se em lutas que só dificultam o entendimento e trazem a divisão das forças e fico triste quando vejo, às vezes, o povo sendo utilizado como massa de manobra.
O que acontece aqui à época das campanhas, eu acho até de certo modo, vergonhoso. Vemos muito dos nossos políticos em verdadeira peleja, cada um querendo mais exibir o seu potencial com a devida preocupação com o povo pensando mais nos seus próprios interesses, fazendo inclusive acordos com políticos de outros municípios, numa manifestação muito potente de descaso pelos nossos próprios valores, vejo a cada dia, nosso prestígio, perante as autoridades superiores se esvaindo, somos carentes de lideranças, poderíamos contar com forças poderosas a nível municipal estadual e federal, mas só desentendimento acontece, justo na época quando o entendimento deviria prevalecer.
Acho que por tudo que acontece, nós pagamos muito caro, pois o que resta, o que fica após o tudo que parece uma orgia, é, exatamente o que aí está à mostra, nós e o Crato entregues ao “deus dará”.
As nossas lideranças, os nossos partidos políticos, nossas entidades de classe, associações, clubes de serviços, sindicatos, câmaras de comercio, enfim a sociedade, todos deveriam atentara para isso, dar outro rumo a tudo que acontece porque, assim, no futuro, iríamos com certeza auferir vantagem com que há muito não contamos.
O Crato é considerado uma cidade culta, civilizada, mas será que a nossa cultura não nos permite entender que o prestigio de um povo depende muito da força política que ele tem? Será que a nossa cultura não nos faz entender que ao vermos nossos votos negociados, o comprador negociou, comprou, pagou, recebeu e por isso não terá mais nenhum compromisso conosco, e isso nos torna muito enfraquecidos e desprestigiados? Será que a nossa cultura não é suficiente para sabermos que precisamos votar em candidatos da terra ou absolutamente comprometidos com ela, para termos então, representantes legítimos e assim mais forças política? Será que a nossa cultura não nos mostra uma maneira de mudarmos este tão triste estado de coisas?
Eu acho imprescindível que mudanças aconteçam e, sem querer ser pretensioso, eu arriscaria a apontá-las, reunindo tudo na palavra união.
Seria necessário que, todos os envolvidos no processo se despojassem de todo e qualquer interesse, que não o de município e seu povo com interesse suprapartidário, se organizassem, se unissem, discutissem os problemas, escolhessem nomes de pessoas inidôneas competentes, vinculadas ao povo para submetidos às eleições, viesse ocupar os diversos cargos de vereador, prefeito, deputado estadual e federal. Assim, teríamos quem defendesse com firmeza e legitimidade os nossos interesses, certamente, viríamos resgatados os nossos valores e o nosso prestígio, resgatada a nossa condição de povo autônomo e assim, reconquistaríamos a nossa tão necessária força política.
Poderá até parecer visionária essa idéia, mas que outra nos levaria a mudar a situação em que nos encontramos atualmente? Acho que há esse caminho e caso não consigamos percorrê-lo, ficaremos marcando passo, vendo as “carruagens passando” rumo a lugares onde a sociedade organizou-se, uniu-se e está pronta, tanto com para defender-se de acontecimentos infaustos, como para receber cada vez, mais benefícios para o seu progresso e sempre mais, bem estar para seu povo.
Eu acho Pedro que devemos abrir mais os olhos, devemos fazer valer os nossos direitos, devemos unir nossas forças, cobrar dos políticos mais dignidade e respeito, exigir deles a união pelo Crato e deveremos, com muita consciência, muito cuidado, muito respeito, muita seriedade, muito amor à terra, exercer o nosso direito de votar com liberdade escolhendo nossos próprios candidatos, porque, só assim, eu acho, que nós conseguiremos mudar a nossa realidade.
Sei que você pensa como eu e, bom seria que muitos outros que usam jornais, blogs, meios de comunicação, também pensassem e levantassem juntos a mesma bandeira.
Quem sabe não se desencadearia um grande movimento em prol de tudo o que o Crato precisa para retomar o seu verdadeiro caminho?
Eu torcerei por isso.
Hélder Macário de Brito
Nota: Hélder Macário de Brito foi prefeito do município de Campos Sales e é irmão do ex-prefeito do Crato, Dr. Humberto Macário de Brito. Atualmente reside em Crato.